Movimentos rotineiros como subir escada podem salvar o coração

Atividade física diária como usar escadas ou ir a um lugar próximo caminhando pode salvar sua vida.
10/01/2024 03h15

Elevador, escada rolante, carro, controle remoto. A van que oferece “carona” do estacionamento à porta do escritório. O que dizer do smartphone? Com todo tipo de entretenimento na palma da mão, é possível ficar horas a fio relaxado e muitas vezes imóvel diante da tela. Maravilhas da vida moderna que garantem conforto e otimizam o tempo, mas podem prejudicar, e muito, a saúde.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que na década de 2020 a 2030, 500 milhões de pessoas desenvolverão problemas cardíacos, obesidade, diabetes ou outras doenças não transmissíveis. A previsão se baseia em dados coletados em 194 países e reunidos na mais recente edição do Relatório Global sobre Atividade Física.

A causa de tantos problemas é uma só: falta de atividade física, ou seja, da simples movimentação do corpo. Muito diferente de exercício físico, que pressupõe atividades para aumentar a capacidade aeróbica e a massa muscular, além de melhorar a flexibilidade. Independente da diferença, os dois são peças fundamentais se você quer ter saúde.

No Brasil, a falta de atividade física é predominante em quase todas as faixas etárias e atinge mais as mulheres do que os homens. Entre adolescentes (de 11 a 17 anos), ela é uma realidade para 78% dos meninos e 89% das meninas. A partir dos 18 anos, o percentual masculino cai para 40% e o feminino, para 53%. Já entre os idosos com 70 anos ou mais, a atividade física é insuficiente para 56% dos homens e 69% das mulheres.

Essencialmente, as comodidades da vida moderna reduzem a necessidade de movimentação do corpo. E quando a musculatura não é usada ao longo do tempo, ela se enfraquece. Além da perda de força, as articulações ficam instáveis.

A falta de movimento muscular reduz a irrigação sanguínea nesses tecidos, o que prejudica a mobilidade, a postura e o equilíbrio. Nesse contexto, a capacidade cardiorrespiratória também se deteriora. Os sinais de que algo não vai bem podem ser percebidos no dia a dia. Dificuldade em se abaixar para mover um objeto ou amarrar os sapatos, dor nas costas ao varrer a casa, respiração ofegante ao lavar a varanda ou passear com o cachorro.

Embora o sedentarismo também atinja crianças e adolescentes, os mais velhos sentem mais os prejuízos – afinal, os efeitos da falta de atividade física são potencializados pelo envelhecimento. Em uma situação extrema, todo esse quadro contribui para que um indivíduo perca a autonomia, ou seja, se torne dependente de outra pessoa.

Mortalidade

A relação entre tempo sentado, expectativa de vida e taxa de mortalidade está bem clara para a medicina. E o sedentarismo é cada vez mais associado ao aumento de risco não apenas para doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, mas também para outras doenças crônicas como obesidade, diabetes, aumento do ácido úrico e do colesterol, dores articulares e até mesmo câncer.

O cardiologista Ivan Penna cita que, de acordo com a OMS, 2 milhões de mortes são atribuídas ao estilo de vida sedentário a cada ano.

— Estudos mostram que pessoas que passam mais de 10 horas por dia sentadas, seja no trabalho ou vendo televisão, têm chance 16% maior de falecer do que pessoas que passam menos de cinco horas sentadas — compara Penna, que integra a equipe médica do Senado.  

Movimento

Pequenas mudanças no dia a dia podem ajudar a manter o corpo mais ativo. Escolher as escadas ao elevador, por exemplo. Além disso, a prática regular de exercícios físicos é comprovadamente eficaz na redução do risco de desenvolver as doenças mencionadas e outras neurodegenerativas, como o Alzheimer.

Para alcançar os benefícios, é preciso praticar pelo menos 150 minutos de exercício físico moderado por semana – tempo que pode ser fracionado mesmo em pequenos intervalos. Nessa intensidade, há aumento da frequência cardíaca e respiratória e também se observa certo grau de cansaço. Uma dica para saber se o exercício está na medida certa: durante a prática, a pessoa deve conseguir falar, mas se puder manter uma conversa, significa que o exercício está brando e precisa ser intensificado.

 — Com o avanço da medicina, temos exames, remédios e tratamentos modernos, que nos ajudam a ter uma vida mais longa. Mas o que cada um de nós pode fazer ativamente para viver e envelhecer melhor é se exercitar, especialmente as pernas — alerta o cardiologista.

Em geral, maiores de 20 anos devem fazer consultas ao cardiologista a cada cinco anos. Maiores de 35 anos devem ter a frequência individualizada, de acordo com fatores de risco. Aos sedentários, é recomendável visitar um cardiologista antes de iniciar a prática de exercícios físicos.